MT pode não ter como escoar
Prazo, segundo o setor e analistas, é de cinco anos devido
aos volumes históricos de produção
Viviane Petroli
Jornal Folha do Estado (publicada na edição de 22 de julho
de 2012)
Mato Grosso pode em cinco anos ver sua safra de grãos se
perdendo nas lavouras se não a conseguir escoar. O colapso não é descartado por
especialistas e o próprio setor produtivo
se a produção seguir em franco crescimento, em especial por conta dos preços
renumeradores. O setor revela que devido à produção recorde de milho nas
maiores regiões produtoras, há cereal sendo estocado fora dos silos; contudo,
situação só não se alastrou para todo o Estado, porque o escoamento da soja foi
rápido devido à grande demanda, em especial do mercado estrangeiro.
Em 10 anos a produção de grãos em Mato Grosso cresceu
106,06%, saltando de 18,48 milhões de toneladas (t) para 38,08 milhões. Somente
a soja representa 56,1% da atual safra, segundo levantamento da Companhia
Nacional do Abastecimento (Conab).
De acordo com o produtor de Sinop e 2º diretor financeiroda
Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio
Galvan, se a produçãoseguir em alta e a infraestrutura de escoamento seguira
mesma poderá ter produção estragando na lavoura ou nos armazéns. “Isso ocorrerá
se não tivermos uma crise no setor devido aos preços, principalmente”.
A questão, também, é referendada pelo economista em
políticas rurais, Adriano Figueiredo. “O colapso não é descartado. Se a
produção seguir em crescimento, não só no Brasil, mas como no mundo, haverá oferta de produtos demasiada
e os preços acabarão caindo e como os produtores ainda têm p r o b l emas de armazenagem acabarão vendendo
pelo preço que aparecer o que não trará renumeração. O escoamento rápido e a falta
de silos pode inclusive transformar os caminhões em armazéns novamente, principalmente nas filas dos portos
e empresas, visto que não se dará conta
de descarregar”.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a capacidade de armazenagem de Mato Grosso é de 32,049 milhões de toneladas,
considerando todas as redes armazenadoras de produtos agrícolas. Segundo o
economista, os produtores ao mesmo tempo que pressionam o governo federal em relação à
situação das rodovias, ferrovias e hidrovias, necessário avaliar a viabilidade de
se incrementar a produção. “É preciso fazer armazéns nas propriedades também. Tenho
notícias que há empresas especializadas, até mesmo em silos pré-moldados, se
instalando no Estado. O produtor
tem de buscar alternativas e ver se vale a pena investir em aumento
de produção”.
EXCESSO DE MILHO
A 2ª safra 2011/12 de milho cresceu 103,6% em comparação a
2010/11, saltando de 6,9 milhões de t para 14,2 milhões de t. De acordo com Galvan,
nas regiões que mais produziram o cereal já é possível ver o produto sendo estocado
para fora dos armazéns. “Produzimos mais do que esperávamos. A situação só não está
pior, ou seja, em todo o Estado, porque a soja foi escoada rápido em
decorrênciada quebra de safra nos Estados Unidos e a crescente demanda na
China. O que prova que podemos ter problemas no futuro”.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato
Grosso (Famato), Rui Prado, comenta que ao passo que a produção aumentou em 10
anos a infraestrutura parou no tempo. “É fato que teremos um apagão rodoviário e
que teremos problemas para armazenar. Nesta safra não estamos tendo problemas,
também, devido os bons preços, o que ajudou a escoar. Entretanto, uma hora a
bomba vai estourar”.
Prado comenta que só em 2012 a demanda de grãos da China é
de 12 milhões de toneladas. Na safra 2011/12 foram produzidos 21,3 milhões de t
de soja. A estimativa era 23 milhões, porém não se concretizou devido à
intensidade da ferrugem asiática nas lavouras do grão.
Ao comparar com a safra passada a produção de soja cresceu
3,9%. Já o algodão, apesar da redução da área em 0,3%, prospecta que a produção
de pluma cresça 6,6%, saltando de 937,3 mil t para 999,4 mil. Os dados são do
Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
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