Desorganização trava cadeia
Hoje, produtor de MT não sabe quanto gasta para produzir um
litro, o que dificulta o retorno
Viviane Petroli (*) ENVIADA ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS QUARTO
MARCOS
Jornal Folha do Estado (publicada na edição de 22 de julho
de 2012)
Mato Grosso possui um potencial indescritível de produção em
várias cadeias. Entre elas a leiteira,
que poderia estar entre as cinco maiores do Brasil se não fosse a
“desorganização” do setor, como o próprio segmento relata. Hoje, o Estado
figura em 10º lugar no país. Muitos produtores não sabem se quer quanto
recebem por um litro de leite e se o valor traz rentabilidade. Atualmente, a
média recebida pelo litro de leite é de R$ 0,67 e os gastos para produção,
conforme o 1º Diagnóstico da Cadeia do Leite de Mato Grosso, divulgado em
abril, fica entre R$ 0,50 e R$ 0,60. Ao ano, o Estado roduz 700 milhões de litros. Os dados foram apresentadosaos
produtores de São José dos Quatro Marcos, anteontem, durante a Famato em Campo Leite,
o 1º dia de campo voltado para a cadeia leiteira, o qual foiacompanhado pela
reportagem.
O evento ocorreu na fazenda Irmãos Santos. De acordo com o
presidente da Associação dos Produtores de Leite de Mato Grosso (Aproleite), Alessandro
Casado, existe uma grande desorganização do setor no Estado, o que impede o desenvolvimento
da cadeia leiteira. “O produtor de leite é individualista. Se houvesse
organização e assistência técnica a todos chegaríamos em no máximo trêsanos ao
patamar de 5º maiorprodutor”. Casado comenta que em 2011 81% dos produtores do Estado
não tiveram assistência técnica.
Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária
de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, o objetivo dos dias de campo é unir a categoria,
além de levar conhecimento e trocar informações. “Os produtores de leite de alguma forma
são dispersos uns dos outros. É preciso mais organização e união para fora da
porteira para que se possa lutar pelos objetivos, em especial o preço do leite
que em Mato Grosso oscila, enquanto em São Paulo é em linha crescente”.
GASTOS
Prado e Casado comentam que a maioria dos produtores não
sabe o quanto gasta para
produzir um litro de leite. Os irmãos Luiz Carlos, José
Carlos e Ângelo Carlos Santos abriram em 1981 a Fazenda Irmãos Santos, em São
José dos Quatro Marcos, e inicialmente trabalhavam com arroz, feijão e milho.
Há 10 anos, José revela, migraram para a cadeia do leite. “Tínhamos
na época 15 vacas em lactação que nos davam de 70 a 80 litros/dia. Hoje são 90
vacas em ordenha e a produção é de 1,1 mil litros/dia com duas ordenhas.
Conseguimos atingir isso com melhoria de genética e alimentação adequada”. A migração
de atividade deveu-se à saca do milho em 2002 custar em média R$ 5.
Apesar dos investimentos e resultados, Luiz revela que não sabe
o quanto gastam para produzir um litro de leite. “Estamosbuscando nos
qualificar para saber o quanto gastamos e se os R$ 0,76 que recebemos do laticínio
da cidade é remunerador ou não. Criamos gado de corte também e não diferenciamos os
ganhos com cada”.
Casado comenta que um painel de custos foi realizado em parceria
com a Confederação da (CNA) e verificou-se que para o produtor ter retorno de
seus gastos e condições de investimentos, seria necessário que este recebesse
R$ 0,81 por litro no Estado e não a média de R$ 0,67. “O que se ganha hoje só
dá para se manter”, frisa.
Prado comenta que será feito em cima do diagnóstico feito pelo
Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), uma política pública
da cadeia do leite para ser apresentada ao governo do Estado.
De acordo a pesquisadora da Embrapa Sinop, Roberta
Carvanelli, que palestrou no evento, se houver planejamento adequado e os
produtores cuidarem do animal e da pastagem, 80% dos problemas do setor são
resolvidos. “Se deixar a vaca no sol, por exemplo, ela produz 20% menos leite e se não cuidar amastite
cai 25% a produção. Os cuidados mais simples não só ajudam a aumentar a
produção, mas também a qualidade”, comenta, informando que técnicos estão em
formação para auxiliar os produtores.
(*) A repórter viajou a convite da Federação da Agricultura e
Pecuária de Mato Grosso (Famato).
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