1 de janeiro de 2012

PECUÁRIA - 2012

Embargo será o 1º obstáculo

Especialistas projetam que veto da Rússia à carne de MT pode chegar ao fim ainda em janeiro

Viviane Petroli
Jornal Folha do Estado (matéria publicada no dia 29 de dezembro de 2011)


O embargo da Rússia à carne bovina de Mato Grosso será o primeiro problema do setor a ser solucionado em 2012. A expectativa é que o governo daquele país coloque fim ao veto já no mês de janeiro. Porém, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) ainda cita como obstáculos à pecuária no ano que vem, a crise econômica que assola a Europa e a
instabilidade política de mercados importadores do produto mato-grossense como a Venezuela e o Irã.

Esse cenário, somado ao alto custo de produção, já vem afetando a pecuária regional desde o fim do primeiro semestre de 2011. O setor só não fechará o ano no vermelho devido a força do mercado interno, que manteve em alta as vendas de carne.

Os dados de abates comprovam isso. De janeiro a setembro 3,326 milhões de cabeças de bovinos foram abatidas em Mato Grosso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como revelam suas pesquisas trimestrais de abates, um aumento de 5,9%
em relação ao período em 2010 quando 3,138 milhões de bovinos foram para o abate.

O fato fez com que Mato Grosso permanecesse líder na modalidade pelo 6° ano consecutivo no Brasil, e elevasse sua participação no país em 16,8%. Levantamento do Imea mostra que os bovinos abatidos somaram 4,022 milhões até outubro.

Mas apesar do bom resultado, o setor lidou com o veto russo desde o dia 15 de junho. Dos 22 frigoríficos proibidos de enviar carne, 17 são de bovinos. O setor ainda encerra 2011 com uma
retração de 10% no preço da arroba, sendo cotada em média a R$ 88 hoje, enquanto nos supermercados ao longo do ano alguns cortes sofreram reajuste de 40%, levando o consumidor a desembolsar mais.

Segundo o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, abateu-se mais animais no período de entressafra, que compreende de julho a setembro. Tais animais eram de confinamentos e semiconfinamentos, suas alternativas encontradas pelos pecuaristas nas épocas de seca para que o bovino não perca peso, entre outros.

“A tendência é termos menos oferta de animais para abate na safra e maior oferta na entressafra devido aos confinamentos e semiconfinamentos. É positivo o uso deles, pois utiliza-se mais tecnologia e abate-se mais cedo. Mato Grosso tem condições para liderar, também, neste setor pecuário”, comentou Vacari em recente entrevista à Folha do Estado.

CONFINAMENTO

Dados do Imea revelam que das 4,5 milhões de cabeças de gado abatidas por ano em Mato Grosso 17% são de confinamentos.

Conforme o último boletim semanal de bovinos do Imea, divulgado em 16 de dezembro, “o ano de 2011 foi mais um dos anos em que a cadeia pecuária de corte foi “salva” pelo apetite do consumidor do mercado interno, sendo este sustentado em grande parte pelo aumento de renda por parte das classes C e D, mantendo firme a demanda pela proteína animal”.

SUINOCULTURA

Custo de produção travou setor

Viviane Petroli
Jornal Folha do Estado (matéria publicada no dia 29 de dezembro de 2011)


Embargo a frigoríficos brasileiros que comercializavam com a Rússia respingou também nas exportações de aves e suínos em 2011. A suinocultura foi a que mais sofreu com esse problema no ano que chega ao fim. Além de ter três frigoríficos impedidos pela Rússia de exportar ao país, o setor sofreu com os preços pagos pelo quilo dos suíno vivo inferior ao custo de produção. Mudar essa realidade será o desafio de 2012, tendo como o alvo a redução de tributos que incidem sobre a atividade.

Neste ano, enquanto o custo de produção por quilo de suíno chegou a R$ 2,15, o preço pago pelo frigorífico não passou de R$ 1,85. Essa diferença gerou perdas de até R$ 700 mil a alguns suinocultores. Segundo o diretor-executivo da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Custódio Rodrigues, o setor encerra 2011 com um custo de produção entre R$ 1,80 e R$ 2 por quilo. Já os frigoríficos pagando R$ 2,45 por quilo de animal vivo. “Chegou-se durante o ano a ter prejuízo de R$ 0,50 por quilo de animal vivo devido a esta diferença. O que pesou na produção foi o milho, a soja e a tributação”.

Em fevereiro a Acrismat solicitou ao governo de Mato Grosso a isenção do ICMS na venda de suínos por 120 dias, contudo o pedido não foi acatado. “As expectativas no início de 2011 eram das melhores, mas tivemos problemas de preço. Entre agosto e setembro melhorou, mas ainda aquém de 2010. O mercado está consistente apesar de tudo, não sobra e nem faltam animais”, diz Rodrigues.

Levantamento do IBGE sobre abates mostra um aumento de 5,23% nos abates de suínos de janeiro a setembro deste ano para o período de 2010, um salto de 1,451 milhão de animais para 1,527 milhão.

Custódio salienta que entre julho e setembro a indústriacomeça a comprar mais animais para fazer seus estoques para o final de ano. “Além disso, o consumo interno aumentou e apesar do embargo da Rússia, novos mercados se abriram para a carne mato-grossense, como os países da Ásia. Para 2012 nosso desafio é continuar brigando pela redução da tributação e impostos, pois, caso isso não ocorra, a produção de suínos pode diminuir, porque o custo de produção é maior que o valor da venda”, diz Custódio.

AVES

O setor da avicultura teve como vilão o embargo russo e a crise financeira da Europa, além dos altos preços das commodities, visto que 60% da ração usada na alimentação animal é milho e 30% soja.

“Só não tivemos problemas maiores devido às exportações para outros países, porque os contratos são em dólar e a moeda esteve em alta de setembro para cá. Nossos maiores desafios de 2011 foram o embargo da Rússia e o alto custo de produção. Para 2012 esperamos aumento de 10% a 20% nas exportações, pois já temos contratos de vendas fechados para 2012”, comenta o presidente da Associação Mato-grossense de Avicultura (Amav), Tarcísio Schroeter.

De janeiro a setembro, 14,7% a mais de frangosforam abatidos no Estado ante o período em 2010, salto de 137,9 milhões de frangos para 158,3 milhões, segundo o IBGE.

EXPORTAÇÕES 2011

Complexo da carne foi o alvo

Embargo da Rússia colocou a cadeia no foco das discussões, porém setor conseguiu faturar mais

Viviane Petroli
Jornal Folha do Estado (matéria publicada no dia 28 de dezembro de 2011)


Mato Grosso deve finalizar o ano (2011) com uma arrecadação nas exportações de US$ 11 bilhões aproximadamente, ocupando o 8° lugar no ranking nacional e representando uma fatia de 34,02% do superávit nacional. Na região Centro-Oeste, 53% do envio ao exterior é de Mato Grosso. Apesar da soja ser o carro chefe dos embarques matogrossenses, os olhos se voltaram para o complexo da carne este ano devido ao embargo russo, iniciado em junho. A proibição ao produto brasileiro, de forma geral, acabou não deixando um rastro tão ruim como se esperava. Em relação a 2010, o Estado exportou 21,1% a mais entre janeiro e novembro de carnes, um salto de US$ 1,019 bilhão para US$ 1,233 bilhão.

O setor possui 12,02% de representatividade das saídas do Estado. Apesar dos bons números, a saída de carne suína teve queda de 48,2% nas exportações, em decorrência ao embargo russo e crise financeira na Europa, enquanto a de aves subiu 46,7%. Setores revelam buscar novos mercados para elevar as vendas.

As informações são da Secretaria de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme-MT), que mostram nas exportações de suínos apenas US$ 34,859 milhões foram exportados de janeiro a novembro de 2011, enquanto em 2010 no período foram US$ 67,284 milhões.

De acordo com o diretor executivo da Associação dos Criadores de Suínos de MatoGrosso (Acrismat), Custódio Rodrigues, neste final de ano novos mercados abriram suas portas para a carne suína matogrossense, mas a recuperação deve ocorrer em 2012.

“Hong Kong, China, Taiwan, Venezuela e a África do Sul conseguimos fazer com que abrissem suas portas para nós. O embargo russo nos prejudicou muito, pois mais de 40% da carne suína brasileira vai para o país”. No quesito toneladas, o envio teve retração de 47% ante 2010, apenas 12,674 mil toneladas foram exportadas.


FATURAMENTO

Conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), apesar do volume das exportações de carne bovina ter recuado 13,6% entre janeiro e novembro deste ano em relação a 2010, enviando apenas 177,9mil toneladas, o faturamento ampliou 14,9%, saltando de US$ 682 milhões em 2010 no período para US$ 722,9 milhões em 2011. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o fato deve-se à valorização da carne no mercado internacional, que levou a média do produto embarcado passar de US$ 3.103/tonelada em 2010 para US$ 4.064.

“A valorização do dólar, a partir do mês de outubro, favoreceu uma recuperação das exportações no período final do ano, porém, ainda insuficientes para uma recuperação do volume de 2011”, diz o Imea.

As exportações de aves, por sua vez, apresentaram crescimento de 46,7% no faturamento, saltando de US$273,7 milhões para US$ 401,4 milhões. Já o volume enviado aumentou 24,5%, passando de 157,7 mil toneladas para 196,3 mil/toneladas, segundo a Sicme-MT. “Não tivemos os mesmos problemas do setor suíno, pois tínhamos outros clientes, como os da Ásia. Além disso, a valorizaçãodo dólar ajudou. Para 2012 esperamos aumento de10% a 20% nas exportações.”, comenta o presidente da Associação Mato-grossense de Avicultura (Amav), Tarcísio Schroeter.