19 de julho de 2009

POEMAS

Rômulo Netto: Um jornalista - poeta de alma e coração

Com uma inspiração que não sabe de onde vem, Rômulo Netto acaba de lançar trilogia e já encontra-se escrevendo outros três livros simultaneamente

Por Viviane Petroli para o Jornal Circuito Mato Grosso. Fotos: Viviane Petroli

“Deixa disso menino. Aqui nesta casa não tem nenhum Castro Alves”, é o que dizia a irmã do jornalista e poeta Rômulo Netto quando este ainda era um menino de nove anos e começou a rabiscar no papel seus primeiros poemas. Mas o que ela não esperava é que os poemas de seu irmão deslanchariam quando ele entrasse na faculdade.

Formado em jornalismo pela Universidade de Brasília (UNB), Rômulo Netto, mineiro de Paracatu, chegou à Cuiabá em janeiro de 1972. Com especialização em Comunicação Rural, Rômulo foi convidado para organizar os vestibulares da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e de 1974 a 1979 exerceu a função de Presidente da Comissão Permanente de Concurso de Vestibulares da universidade, onde organizou 28 vestibulares. Entre 1979 e 1991, ainda na UFMT, Rômulo criou a Imprensa Universitária, a Editora da UFMT e, enquanto esteve à frente do Conselho da Imprensa Universitária, lançou a Revista Universitária, que deixou de ser escrita quando saiu do Conselho em 1991.

Rômulo aposentou cedo em sua opinião. Aos 47 anos Rômulo aposentou-se por tempo de serviço prestado e, desde então, passou a dedicar-se mais a sua família e aos poemas. Em mais de 20 anos Rômulo já lançou 24 livros. Alguns destes ele possui guardado em sua casa, outros diz não ter.


Ameríndia foi seu primeiro livro a ser lançado em outubro de 1980. Nele, através da poesia, descreve a destruição do Império Inca. Para o lançamento de Ameríndia, Rômulo conta que conseguiu trazer o Embaixador do Peru, na época e que este ficou impressionado por Rômulo saber mais sobre o Peru do que os professores universitários do país. “Ele chegou a me perguntar por quanto tempo fiquei no Peru para pesquisar sobre a destruição do Império Inca, pois sabia mais que os professores de escola e universidade do País. Respondi para ele que nunca havia ido ao Peru, o que era verdade”, lembra-se Rômulo.


Em 1982 ocorreu, na UFMT, um encontro de reitores do Brasil e, com o intuito de presentear as esposas dos reitores, o então reitor da universidade, Gabriel Novis Neves, perguntou a Rômulo se ele não possuía um livro para presenteá-las. Por sua vez Rômulo disse que sim e então escreveu seu segundo livro.


Conforme o tempo passava, a inspiração de Rômulo aumentava cada vez mais. Em sua mente poemas e poesias românticas, dramas, alertas para a sociedade, natureza entre outros gêneros em sua mente surgiam. Pássaro Perdido, Veias Vorazes, Lua de Papel surgiram sequencialmente. Durante 13 anos, Rômulo deixou de escrever seus livros e, em 1999, para quebrar o atraso, lançou ao mesmo tempo Primavera Silenciosa e Duas Meninas e Sua Casa (livro este que conta, através da poesia, sobre o dia-a-dia de suas filhas quando eram pequenas, incluindo brincadeiras e brigas). De 1999 até os dias atuais Rômulo não mais parou de escrever e revela não saber de onde vem tanta inspiração para no papel colocar tantas palavras. Limite, Mão de Vaca, Os Deserdados da Sorte (três livros em uma só publicação), Transitoriedades foram surgindo e dando lugar a novos poemas. “Tenho um carinho muito especial por Duas Meninas e Sua Casa por ser um livro que fala de minhas filhas quando eram pequenas. Tenho carinho também por Primavera Silenciosa e Transitoriedades por falarem da natureza e do ser humano”, comenta o poeta.

Trilogia
Em 12 de maio Rômulo lançou uma trilogia, onde apenas o primeiro livro considera ser um conto e os outros dois capítulos de novela, por poderem ser lidos alternadamente. Contos dos Gerais, Filisberto das Âncoras e As Jagunças até hoje são seus únicos livros publicados que não foram impressos e ilustrados por ele. “Alguns de meus livros foram feitos em casa e outros o Conselho Editorial da UFMT é quem fez a impressão. Meus três últimos livros foram publicados pela Editora Tanta Tinta, através da Lei de Incentivo à Cultura, onde me incentivaram a participar”, conta Rômulo.


O único livro da trilogia em que todas as personagens centrais são mulheres é em As Jagunças, onde 21 mulheres são as personagens centrais. “É um livro feminista. Nele não utilizei pontos e nem vírgulas, coisa que há algum tempo já venho fazendo”, explica.


De tamanha vontade que tinha de escrever e inspiração, Rômulo sem perceber, enquanto escrevia Filisberto das Âncoras (personagem este que surgiu em Os Deserdados da Sorte) acabou escrevendo o livro A Urna Desmemoriada. “Levei para a editoração ler e eles me ligaram, dizendo que eu havia escrito dois livros em um. Então li tudo e vi que realmente havia, sem perceber, feito isso. Acabei separando os textos e publicando dois livros”, diz.

Novas publicações
Munido de um caderno feito por ele mesmo Rômulo aonde quer que vá, está sempre escrevendo. Segundo ele, as palavras surgem do nada em sua cabeça e não sossega enquanto não colocá-las no papel para que, depois de concluir todo o livro, possa passar as poesias para o computador. Hoje, simultaneamente, Rômulo está escrevendo outros três livros de poesias e poemas. “A inspiração não tem hora pra vir. É muito difícil eu rasgar um poema que já tenha escrito. As vezes só troco uma ou outra palavra e todos os meus poemas são datados”.


Entre todos os 24 livros que já publicou Rômulo revela que Os Deserdados da Sorte e Transitoriedades deveriam ser publicados em massa, pois eles fazem um alerta ao ser humano das coisas que estão acontecendo, como a poluição e a morte de um rio, por exemplo.

TEATRO FÚRIA

Furiosos de Cuiabá partem para estremecer Curitiba

A partir de novembro, Teatro Fúria leva para Curitiba, toda sua fúria na mala e, enquanto não se muda, segue aberto com sua escola de Teatro

Por Viviane Petroli para o Jornal Circuito Mato Grosso. Fotos: Arquivo Teatro Fúria

Tudo começou ainda na Cuiabá do século XX, mais precisamente em 1992, quando ainda adolescentes Péricles, Caio, Giovanni, Bruna e Toledo eram alunos de Gilberto Nasser, no Grupo Ânima, que era um teatro amador feito nos finais de semana na antiga Escola Técnica Federal. Contudo em dezembro de 1998 ,é que realmente nasceu o Teatro Fúria. Nasceu como um grupo de teatro profissional. De acordo com Péricles, o Grupo Anima, no início do caminho do Fúria, foi que lá, não só se desenvolveu o trabalho de ator e sim um trabalho de dramaturgia, de direção, iluminação e sonoplastia e, que todo esse aprendizado, lhes deu segurança para começar a desenvolver a linguagem do Fúria. “É por isso que sempre citaremos o Ânima e o Gilberto Nasser, que nos iniciou de forma generosa e sem cobrar nada”, comenta Péricles.

Até o ano passado, o Teatro Fúria funcionava de forma fechada e, este ano, resolveu inovar e abriu a Escola do Teatro Fúria, onde todos que participam da Escola avançam com os criadores, em sua pesquisa, é considerado um furioso. Hoje, desde a criação do Teatro Fúria, apenas Péricles, Caio, Giovanni e Bruna continuam na luta para mostrar o que é o Fúria. Conforme Péricles, Toledo deixou o Fúria no final de 2008, mas quando quiser voltar sempre encontrará as portas abertas e os companheiros de luta de braços abertos. “Com a saída de Toledo, no ano passado, mas que tem o direito conquistado de voltar à hora que desejar, portanto, ele também, mesmo que desminta isso, é um de nós, hoje temos no Fúria a Emily como a mais nova integrante da Aldeia. A Emily é sobrinha do Amir Haddad, uma das grandes almas nobres do teatro nacional e, para nós, é uma grande alegria iniciá-la no teatro”, conta Péricles.

Péricles conta que o nome Teatro Fúria é devido ao fato de eles serem “os furiosos que reagem às expectativas impostas pelo sistema democrático/capitalista/cristão”. Para eles Fúria significa coragem e luta. “É o nome que representa nosso estilo de fazer teatro: o teatro não como profissão e sim como estilo de vida”, completa Péricles.

Apresentações
A primeira apresentação do Fúria foi o espetáculo Nepal que aos poucos foi dando espaço para outras peças. Na sequência de Nepal vieram Consolero, Frederica, Encaixotando Shakespeare, Frederica – a Verdade Maior que o Corpo, Apartamento 501, Rochdale, A Justiça do Zero a Zero, Os Bichos Narram Quixote. Segundo Péricles há dois novos textos que ainda não foram estreados, que são O Buraco e Carrossel Cusco. “Carrossel Cusco estreia este ano e foi premiado pelo Cuiabá Cidade Arte, da Secretaria Municipal de Cultura de Cuiabá. Tínhamos um projeto no centro de detenção de menores, o Complexo Polmeri (antiga Fazendinha). Lá fizemos dois espetáculos que foram o Quebra-Cabeça e Por Trás do Pano”, lembra.

Por ser um grupo de vasto repertório, o Fúria está com vários espetáculos em cartaz. Entre os mais requisitados estão Nepal, Frederica e Encaixotando Shakespeare, mas não na Hell City, como Cuiabá vem sendo chamada no universo cultural e sim pelo país e festivais nacionais e internacionais de teatro. “Apresentamos mais fora de Mato Grosso do que por aqui mesmo. Por ser uma cidade pequena, as temporadas são rápidas. Geralmente sete dias quando o espetáculo é dentro de teatro e um mês quando é em espaços alternativos. Por intermédio dos festivais e programas de circulação de espetáculos (Palco Giratório – Sesc Nacional, Caravana Funarte, projetos particulares contemplados pela Lei Rouanet) já percorremos com nossos espetáculos e laboratórios, 18 Estados e perto de 60 cidades brasileiras. Nesta segunda década, queremos percorrer a América Latina”, revela Péricles.

Diferenças
Péricles diz que cada grupo teatral é diferente um do outro, mas que a grande diferença do Fúria para os outros é que eles são um grupo de motivação ideológica política e social. “Os espetáculos dizem o que os integrantes têm a dizer. Nos interessa o sucesso, mas não o sucesso oriundo das expectativas do sistema. Queremos o sucesso oriundo de conseguir dizer as nossas verdades amadurecidas e desenvolvidas nos ensaios. O sucesso para nós é conseguirmos desenvolver um modo para dizê-las, que cause interesse no público sobre as verdades que acreditamos. Isso, às vezes, pode parecer a quem não nos conhece, que vivemos a dar murros em pontas de faca, mas não é assim. O fato é que sabemos exatamente o motivo de fazermos teatro e o nosso teatro está diretamente ligado ao nosso espírito. À motivação que nos leva a viver”, explica Péricles.

Rumo à Curitiba
Dentro de menos de quatro meses o Teatro Fúria estará de malas prontas rumo à Curitiba (PR), não para uma apresentação e sim de malas prontas para se fixar na cidade. Péricles conta que o grupo já está estagnado e que, nesta nova década, a principal vertente do Fúria é a Escola do Teatro Fúria, “pois é a Escola que fará o aprimoramento da nossa linguagem e a renovação do Teatro Fúria e os Insurretos Furiosos Desgovernados”. Péricles completa dizendo que “aqui ninguém dá a mínima para ela. Temos atraído ótimas cabeças, mas em quantia insuficiente de experimentadores. Para mantê-la viva utilizamos o mesmo método que usamos para manter vivos nossos espetáculos: A perambulação por outros Estados brasileiros”.

Hoje a Escola de Teatro Fúria funciona na Galeria do Insurreto Pádua Nobre e, por ainda ser nova, possui poucos laboratórios. Até o momento são quatro laboratórios, divididos cada um em carga horária de 25 horas.

Confira os quatro laboratórios da Escola Teatro Fúria, segundo Pérícles:
1) Laboratórios para sujeitos curiosos leigos - IniciaçãoSempre de forma muito lúdica e prazerosa, os experimentadores tomam contato com a mímica, a construção de personagens da comédia dell'arte, encenação de esquetes, o teatro do oprimido de Augusto Boal e a construção de cenas de modo autogestivo na Caixa-Mágica com suas Marionetes Humanas.Carga horária de 25 horas

2) Laboratórios Democráticos - para artistas iniciadosExperimentamos o que desde pequenos nos ensinam sobre o que é democracia e como ela funciona. Como a democracia é na realidade e como na realidade funciona, o que devemos fazer para a democracia ser mais eficiente, no que diz respeito à promoção de justiça e O QUE deveria ser a democracia e COMO deveria ser. Após estes laboratórios, o artista iniciado terá muito mais clareza da função ou disfunção do artista nas circunstâncias democráticas.Carga horária de 25 horas.

3) Laboratórios da Dramaturgia da Árvore - Oficina de dramaturgia. Se experimenta passo-a-passo os métodos de construção de textos teatrais do Teatro Fúria neste últimos 10 anos, se analisa outras dramaturgias, maneiras de se explorar o sub-texto e superobjetivo, experimenta-se a adaptação de outras obras para a linguagem de cena e se mostra as convenções de comunicação.Carga horária de 25 horas.

4) Desalienação dos sentidos - O laboratório Desalienação dos sentidos visa despertar, através de exercícios de consciência dos cinco sentidos (tato, audição, paladar, olfato e visão), o 6º sentido: A desalienação social e política. A interpretação dos verdadeiros interesses por trás das mensagens nos impostas pelos governos, mídias e religiões moralizantes. E como conseqüência, a análise de nossos irracionais comportamentos tirânicos, desenvolvidos pela nossa educação autoritária, em prol dos interesses do sistema capitalista/democrático/judaico-cristão. Carga horária de 25 horas.

Fúria e o cinema
O Fúria, conforme Péricles, sempre teve o objetivo de criar um núcleo de cinema, intitulado O Cinema Fúria, quando se mudassem e estivessem estabelecidos com a Escola e a sua Aldeia em Curitiba. Péricles conta que tem um cunhado que é cinemeiro em Atlanta e que ele faz filmes e dá aulas de cinema na faculdade dos Estados Unidos e que ele tinha muita vontade de fazer um filme em Chapada dos Guimarães. “Calhou de ele dar uma palestra no Rio de Janeiro sobre cinema, então adiantou sua viagem em dois meses para que, enquanto ele viesse nos visitar, antes de seu compromisso, fizesse um curta-metragem conosco. Mas como eram poucas locações, poucos atores e, além de tudo, tivemos muita colaboração voluntária, observamos que o custo de produção deste curta não seria tão superior ao custo de um longa e, por isso, optamos pelo longa, já que é muito melhor pra sua divulgação, já que ninguém dá a mínima pra curta metragem. Em suma: a história do filme é esse. O nome do filme é Transmigration of Soul and Body e é uma parceria do Cinema Fúria, Universidade de Artes de Atlanta, Universidade de Artes de Pitsburg, Social Filmes de São Paulo e Sunshine Entertainment de Nova York e estreia em outubro nos Estados Unidos e no Brasil. Foi filmado em Chapada dos Guimarães e algumas poucas imagens aqui em Cuiabá. É uma história sobre delírio”, explica Péricles.