26 de janeiro de 2008

REALIDADE BRASILEIRA

A vida através do “lixo”para quem precisa

O que pode estar sem qualidade para alguns para outros pode ser a sobrevivência durante a semana

VIVIANE PETROLI
Especial para o Jornal Circuito Mato Grosso

“É dia de feira, quarta-feira, sexta-feira, não importa a feira é dia de feira” já diz a música ‘A Feira’, do grupo O Rappa. E realmente não importa mesmo o dia da feira, principalmente para aqueles que sobrevivem do que é jogado fora depois de um dia de vendas. Muitas vezes, o que é jogado fora pelos feirantes ou até mesmo pelos supermercados e quitandas ainda pode ser aproveitado.
E o que parece não ser próprio para o consumo e está em boa qualidade, para quem não tem condições de pagar pelos produtos que são vendidos está aí a oportunidade. Esse é o caso das pessoas que sobrevivem com o que encontram no lixo e nos bota-foras de Ceasas, de feiras, supermercados e quitandas. Uma simples batida num tomate, por exemplo, para elas não faz a diferença, pois o produto ainda pode ser consumido lavando bem e tirando a parte ‘estragada’.
Essa cena é comum em grandes cidades. Em São Paulo, há pessoas que chegam a se locomover cerca de 20 quilômetros até o Ceasa em busca de frutas, verduras e legumes.
Aqui em Cuiabá também não é diferente. É possível observar pessoas procurando em bota-foras de supermercados e na Feira do Porto alimentos que não são consumidos.
De acordo com o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Assistência Social de Cuiabá, Euze Carvalho, o que essas pessoas fazem em busca de alimentos não é correto. “Evidentemente não é bom as pessoas reaproveitarem alimentos do lixo. O ideal seria os restaurantes e lanchonetes doarem para entidades o que sobra do dia, mas infelizmente a Vigilância Sanitária proíbe isso. E em função disso os alimentos acabam indo para o lixo e as pessoas acabam pegando da mesma forma.”
O secretário adjunto ainda diz que as pessoas que buscam alimentos dessa maneira podem acabar contraindo uma infecção ou pegar alguma doença, pois misturado ao lixo pode haver algo que contamine os alimentos como, por exemplo, uma pilha, lata de veneno e até mesmo agrotóxicos.


Projetos da Secretaria de Assistência Social
A Secretaria Municipal de Assistência Social possui o Cras (Centro de Referência em Assistência Social) que atende em cinco bairros de Cuiabá. O Centro cadastra famílias para receber sacolões, além de prestarem serviços de assistência. Os bairros que recebem o projeto Cras são Pedra 90, Tijucal, Jardim Araçá, Jardim União e Planalto e, segundo o secretário Euze Carvalho, ainda este ano, os bairros Dr. Fábio e 1º de Março também passarão a ter o Cras.
Outro projeto é o de Reaproveitamento Alimentar, onde as famílias cadastradas pelo Cras recebem semanalmente um sacolão de frutas, verduras e legumes. O projeto Reaproveitamento Alimentar funciona por meio de doação de supermercados e feirantes que acreditam que as frutas, verduras e legumes não estão bons para vender em seu estabelecimento, apesar dos alimentos ainda estar em bom estado para consumo. “Os alimentos chegam ao projeto, passam pelo processo de separação e depois é distribuído para as mais de 400 famílias cadastradas pelo Cras.”, explica o secretário Euze Carvalho.

Feira do Porto e suas doações
A Feira do Porto é um dos locais mais procurados por pessoas que estão passando necessidade e desempregadas. Conforme o subgerente da Associação dos Feirantes, Luis Carlos Cláudio, são poucas as pessoas que aparecem no local, pois os próprios feirantes já realizam doações para entidades e ONGs que fazem a distribuição de alimentos para as pessoas necessitadas.
“Os feirantes nem colocam no lixo os alimentos, seguram em suas próprias bancas e ali mesmo vão separando para fazer as doações para entidades”, diz o subgerente.
Luis Carlos Cláudio ainda diz que se os feirantes veem que a pessoa realmente está precisando, ajudam ali mesmo na feira, mas se perceberem que são ‘alcoólatras, drogadas e malandros’ não ajudam.

Pessoas que ajudam
Na Feira do Porto todos realizam doações desde a inauguração do local. O vice-presidente da Associação dos Feirantes, Sérgio Lupirini, por exemplo, ajuda a creche Falcãozinho quando esta não está em período de férias.
Juvenil dos Santos ajuda tanto o Abrigo Bom Jesus para idosos como a creche, além de pessoas que vê que precisam mesmo. Bela Lucia, que há sete anos montou sua banca na feira, afirma que também ajuda com o que pode. “Sempre participei deste tipo de doações”.
Mas não é só de frutas, verduras e legumes que os feirantes do Porto ajudam a população carente. Os 28 açougues localizados no local ajudam, no fim do dia, com carnes e ossos. “Desde o começo da feira, antes mesmo de inauguração, estou ajudando quem precisa”, conta José Augusto que montou seu açougue na Feira do Porto.

Um comentário:

Rafael Silva disse...

Foi muito interessante a post colocado acima. Eu gostaria de indicar um post que informa um dos motivos dessas coisas acontecerem com alguns cidadões da sociedade brasileira: http:\\www.dialognosso.blogspot.com

Visitem.