1 de agosto de 2009

HOMENAGEM

O retrato da vida: Caminhoneiros

Saudade da família, estradas em péssimas condições, problemas com a saúde, noites sem dormir direito. Esta é a triste rotina do caminhoneiro brasileiro que, pelas estradas do país, roda em busca do seu ganha pão
Por Viviane Petroli para o Jornal Circuito Mato Grosso. Foto: Viviane Petroli

Eles são como os médicos, são como os cientistas, os engenheiros, os professores e até mesmo os agricultores e pecuaristas. Sem eles não sobrevivemos, não temos o que comer e não temos o que vestir e o que calçar, não temos o combustível em nossos carros e nem onde sentar para uma refeição. No último dia 25 de julho eles tiveram um dia inteirinho dedicado somente a eles. Em alguns lugares foi somente um dia, em outros as comemorações durarão até a primeira quinzena de agosto. Se pensastes no amigo Caminhoneiro acertou, pois ele é tudo isso e um pouco mais.

Ser caminhoneiro é viver longe da família, é viver constantemente sem saber o que lhe reserva pela frente, é não saber quando fará uma refeição decente que não seja a feita na cozinha da carreta. Ser caminhoneiro é entrar para a profissão e não saber quando conseguirá se aposentar, ser caminhoneiro é enfrentar os perigos da estrada e rezar a Deus e pedir que lhe guie e lhe proteja.

Com mais de 20 anos de profissão, Artemio Freitas sempre trabalhou com caminhão graneleiro e está há um mês sem ver sua família. Ele conta que a ligação que faz para ter notícias de sua família não mata a saudade que sente. Natural de Marechal Cândido Rondon (PR) Artemio é mais um dos milhares de caminhoneiros que pelas estradas brasileiras chegam a passar meses longe da família, principalmente quando é tempo de safra. “Já cheguei há ficar 90 dias sem ver minha família. Isso ocorre, principalmente, em época de safra. A saudade não era tanta quando meus filhos, que hoje possuem 25 anos, eram pequenos, mas depois que fizeram seis anos e começaram a estudar, tiveram de parar de viajar comigo”, conta Artemio, que ainda tem um irmão na mesma profissão.

Até hoje é comum vermos pais caminhoneiros carregando a família ou um dos filhos consigo na boleia do caminhão em período de férias ou quando os mesmos ainda não estão estudando. “Só eu sou caminhoneiro na minha família, mas a ideia do meu filho de 12 anos é seguir meus passos e se tornar um caminhoneiro. Desde pequeno ele é apaixonado por caminhão”, comenta Valdecir Salvador, acompanhado do filho. Há 15 anos Valdecir é caminhoneiro. Natural de Catanduva (SC), ao contrário de Artemio, o máximo que chegou a ficar longe da família foi 40 dias.

Além da saudade da família, os caminhoneiros têm de enfrentar outras saudades: a de uma cama decente, a de um banho decente e o de uma comida decente, pois a cama do caminhão não é a mesma de suas casas, os chuveiros dos postos de combustível não são os mesmos de sua casa e a comida feita no caminhão ou de restaurantes e lanchonetes de beira de estrada não é a mesma feita por sua esposa ou mãe. Só para se ter uma idéia, a cozinha de um caminhão, uma caixa quadrada, em alguns casos, cabe apenas um pequeno fogão camping (duas bocas), alguns utensílios domésticos e um que outro alimento não perecível.

Estradas brasileiras
Não é de hoje que o brasileiro sofre com os problemas nas estradas do Brasil e quem mais sofre com isso são os caminhoneiros e os motoristas de ônibus. “São estradas ruins, cheias de curvas irregulares, sem sinalização em boa parte delas, asfalto de péssima qualidade e ainda temos de aguentar os guardas querendo nos multar, mesmo que o caminhão esteja com tudo em ordem e, se não damos dinheiro, aí sim eles vem e nos multam e ainda inventam qualquer irregularidade. Eles deveriam é nos ajudar isso sim, pois além de tudo o que já enfrentamos com as estradas ruins, ainda temos de enfrentar os assaltos e os roubos de carga e caminhão”, diz Artemio Freitas. Há 15 anos trabalhando como caminhoneiro, Cláudio Antonio da Silva, de Ourinhos (SP) diz que onde existe pedágio as estradas são boas, contudo nos trechos em que não há é um perigo total. “O pior trecho que já enfrentei foi o do corredor da morte”, diz Cláudio, se referindo ao trecho Rondonópolis-Cuiabá.

Cláudio não é o único que reclama do trecho entre as duas cidades mato-grossenses. Conforme Altemir Dalaca, 24 anos como caminhoneiro, o trecho entre Rondonópolis e Cuiabá é muito violento. Para Altemir o pior trecho é este até o município de Sorriso. “É necessário que esta duplicação da BR 364 saia logo”, completa Altemir que é de Caxias do Sul (RS).

“Graças a Deus nunca sofri acidente, mas já vi amigos sofrerem acidentes. As estradas do Brasil estão muito ruins, é preciso todo um reparo nelas. O trecho entre Cuiabá e Rondonópolis tenho de fazer com muita calma e paciência. É um buraco em cima do outro, às vezes nem tem como escapar pelo acostamento, porque não tem”, revela Vânio Carlos Neves, que há 33 anos é caminhoneiro, durante churrasco em homenagem ao dia do motorista, promovido pelo Posto Aldo Locatelli.

Empresários também reclamam
A reportagem do CIRCUITO MATO GROSSO aproveitou para conversar com proprietários de frota de caminhão e saber deles quais os principais problemas de ser um empresário deste ramo. De acordo com Vitório Manica, há 33 anos no ramo e há 13 como proprietário de frota, as despesas com a frota são muito grande, principalmente quando o assunto é combustível. “Depois do combustível nosso maior problema é com as despesas em oficina e pneu, devido ao estado em que as rodovias e BRs do Brasil se encontram. Por esse motivo, meus caminhões estão direto na oficina”, revela Vitório.


Assim como Vitório, para Cláudio Rigatti,proprietário da Rigatrans Transportadora Ltda., o custo de se manter a frota é muito grande. “Nossos prejuízos são vários. O diesel é caro, os gastos com oficina e pneus são altos e ainda temos de enfrentar a falta de segurança nas rodovias. Só está e entra para a profissão quem gosta mesmo”, comenta Rigatti.

18ª Festa de São Cristóvão
Em comemoração ao Dia do Motorista (25 de julho), nos dias 07, 08 e 09 de agosto será realizado, na Comunidade de São Cristóvão -Posto das Mangueiras, a 18ª Festa de São Cristóvão. Durante as festividades motoristas e comunidade poderão conferir shows nacionais com o grupo sul-mato-grossense Tradição (07.08) e com o cantor sertanejo Leonardo (08.08). No domingo (09.08) será realizado o famoso Costelão de São Cristóvão e as festividades religiosas.

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