2 de agosto de 2012

PRODUÇÃO DE LEITE

Desorganização trava cadeia

Hoje, produtor de MT não sabe quanto gasta para produzir um litro, o que dificulta o retorno

Viviane Petroli (*) ENVIADA ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS QUARTO MARCOS
Jornal Folha do Estado (publicada na edição de 22 de julho de 2012)


Mato Grosso possui um potencial indescritível de produção em várias cadeias. Entre  elas a leiteira, que poderia estar entre as cinco maiores do Brasil se não fosse a “desorganização” do setor, como o próprio segmento relata. Hoje, o Estado figura em 10º lugar no país. Muitos produtores não sabem se quer quanto recebem por um litro de leite e se o valor traz rentabilidade. Atualmente, a média recebida pelo litro de leite é de R$ 0,67 e os gastos para produção, conforme o 1º Diagnóstico da Cadeia do Leite de Mato Grosso, divulgado em abril, fica entre R$ 0,50 e R$ 0,60. Ao ano, o Estado roduz 700 milhões de litros. Os dados foram apresentadosaos produtores de São José dos Quatro Marcos, anteontem, durante a Famato em Campo Leite, o 1º dia de campo voltado para a cadeia leiteira, o qual foiacompanhado pela reportagem.

O evento ocorreu na fazenda Irmãos Santos. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Leite de Mato Grosso (Aproleite), Alessandro Casado, existe uma grande desorganização do setor no Estado, o que impede o desenvolvimento da cadeia leiteira. “O produtor de leite é individualista. Se houvesse organização e assistência técnica a todos chegaríamos em no máximo trêsanos ao patamar de 5º maiorprodutor”. Casado comenta que em 2011 81% dos produtores do Estado não tiveram assistência técnica.

Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, o objetivo dos dias de campo é unir a categoria, além de levar conhecimento e trocar informações. “Os produtores de leite de alguma forma são dispersos uns dos outros. É preciso mais organização e união para fora da porteira para que se possa lutar pelos objetivos, em especial o preço do leite que em Mato Grosso oscila, enquanto em São Paulo é em linha crescente”.

GASTOS

Prado e Casado comentam que a maioria dos produtores não sabe o quanto gasta para
produzir um litro de leite. Os irmãos Luiz Carlos, José Carlos e Ângelo Carlos Santos abriram em 1981 a Fazenda Irmãos Santos, em São José dos Quatro Marcos, e inicialmente trabalhavam com arroz, feijão e milho.

Há 10 anos, José revela, migraram para a cadeia do leite. “Tínhamos na época 15 vacas em lactação que nos davam de 70 a 80 litros/dia. Hoje são 90 vacas em ordenha e a produção é de 1,1 mil litros/dia com duas ordenhas. Conseguimos atingir isso com melhoria de genética e alimentação adequada”. A migração de atividade deveu-se à saca do milho em 2002 custar em média R$ 5.

Apesar dos investimentos e resultados, Luiz revela que não sabe o quanto gastam para produzir um litro de leite. “Estamosbuscando nos qualificar para saber o quanto gastamos e se os R$ 0,76 que recebemos do laticínio da cidade é remunerador ou não. Criamos gado de corte também e não diferenciamos os ganhos com cada”.

Casado comenta que um painel de custos foi realizado em parceria com a Confederação da (CNA) e verificou-se que para o produtor ter retorno de seus gastos e condições de investimentos, seria necessário que este recebesse R$ 0,81 por litro no Estado e não a média de R$ 0,67. “O que se ganha hoje só dá para se manter”, frisa.

Prado comenta que será feito em cima do diagnóstico feito pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), uma política pública da cadeia do leite para ser apresentada ao governo do Estado.

De acordo a pesquisadora da Embrapa Sinop, Roberta Carvanelli, que palestrou no evento, se houver planejamento adequado e os produtores cuidarem do animal e da pastagem, 80% dos problemas do setor são resolvidos. “Se deixar a vaca no sol, por exemplo, ela produz 20% menos leite e se não cuidar amastite cai 25% a produção. Os cuidados mais simples não só ajudam a aumentar a produção, mas também a qualidade”, comenta, informando que técnicos estão em formação para auxiliar os produtores.

(*) A repórter viajou a convite da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).

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