2 de agosto de 2012

RECORDES

MT pode não ter como escoar

Prazo, segundo o setor e analistas, é de cinco anos devido aos volumes históricos de produção

Viviane Petroli
Jornal Folha do Estado (publicada na edição de 22 de julho de 2012)


Mato Grosso pode em cinco anos ver sua safra de grãos se perdendo nas lavouras se não a conseguir escoar. O colapso não é descartado por especialistas e o próprio setor  produtivo se a produção seguir em franco crescimento, em especial por conta dos preços renumeradores. O setor revela que devido à produção recorde de milho nas maiores regiões produtoras, há cereal sendo estocado fora dos silos; contudo, situação só não se alastrou para todo o Estado, porque o escoamento da soja foi rápido devido à grande demanda, em especial do mercado estrangeiro.

Em 10 anos a produção de grãos em Mato Grosso cresceu 106,06%, saltando de 18,48 milhões de toneladas (t) para 38,08 milhões. Somente a soja representa 56,1% da atual safra, segundo levantamento da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab).

De acordo com o produtor de Sinop e 2º diretor financeiroda Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio Galvan, se a produçãoseguir em alta e a infraestrutura de escoamento seguira mesma poderá ter produção estragando na lavoura ou nos armazéns. “Isso ocorrerá se não tivermos uma crise no setor devido aos preços, principalmente”.

A questão, também, é referendada pelo economista em políticas rurais, Adriano Figueiredo. “O colapso não é descartado. Se a produção seguir em crescimento, não só no Brasil, mas como no mundo, haverá oferta de produtos demasiada e os preços acabarão caindo e como os produtores ainda têm  p r o b l emas de armazenagem acabarão vendendo pelo preço que aparecer o que não trará renumeração. O escoamento rápido e a falta de silos pode inclusive transformar os caminhões em armazéns  novamente, principalmente nas filas dos portos e empresas, visto que não se  dará conta de descarregar”.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capacidade de armazenagem de Mato Grosso é de 32,049 milhões de toneladas, considerando todas as redes armazenadoras de produtos agrícolas. Segundo o economista, os produtores ao mesmo tempo que pressionam o governo federal em relação à situação das rodovias, ferrovias e hidrovias, necessário avaliar a viabilidade de se incrementar a produção. “É preciso fazer armazéns nas propriedades também. Tenho notícias que há empresas especializadas, até mesmo em silos pré-moldados, se instalando no Estado. O produtor
tem de buscar alternativas e ver se vale a pena investir em aumento de produção”.

EXCESSO DE MILHO

A 2ª safra 2011/12 de milho cresceu 103,6% em comparação a 2010/11, saltando de 6,9 milhões de t para 14,2 milhões de t. De acordo com Galvan, nas regiões que mais produziram o cereal já é possível ver o produto sendo estocado para fora dos armazéns. “Produzimos mais do que esperávamos. A situação só não está pior, ou seja, em todo o Estado, porque a soja foi escoada rápido em decorrênciada quebra de safra nos Estados Unidos e a crescente demanda na China. O que prova que podemos ter problemas no futuro”.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, comenta que ao passo que a produção aumentou em 10 anos a infraestrutura parou no tempo. “É fato que teremos um apagão rodoviário e que teremos problemas para armazenar. Nesta safra não estamos tendo problemas, também, devido os bons preços, o que ajudou a escoar. Entretanto, uma hora a bomba vai estourar”.

Prado comenta que só em 2012 a demanda de grãos da China é de 12 milhões de toneladas. Na safra 2011/12 foram produzidos 21,3 milhões de t de soja. A estimativa era 23 milhões, porém não se concretizou devido à intensidade da ferrugem asiática nas lavouras do grão.

Ao comparar com a safra passada a produção de soja cresceu 3,9%. Já o algodão, apesar da redução da área em 0,3%, prospecta que a produção de pluma cresça 6,6%, saltando de 937,3 mil t para 999,4 mil. Os dados são do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Nenhum comentário: