23 de outubro de 2008

SERPENTES

Centro busca ensinar população

Criado para produção de Soro, o Centro dedica-se a treinamentos para população em geral

VIVIANE PETROLI
Especial para o Jornal Circuito Mato Grosso

Localizado em frente ao Hospital Adauto Botelho, o Centro de Ofiologia se encontra em um espaço construído em maio de 1973, que tinha como função, inicialmente, de ser uma cadeia e, mais tarde, foi cedido para a Secretaria de Estado de Saúde para abrigar o Centro, onde há mais de 20 anos permanece. Conforme o biólogo do Centro de Ofiologia, Luiz Saragiotto, 22 anos atrás o Ministério da Saúde criou Centros de Ofiologia no país, por existir uma carência, na época, de veneno para a produção de Soro. Saragiotto conta que, inicialmente, os Centros encaminhavam as serpentes e cobras para o Instituto Butantan, em São Paulo e mais tarde passaram a enviar apenas o veneno.

Após 10 anos realizando estes trabalhos, alguns Centros foram extintos e os que continuaram ativos passaram a trabalhar com o foco educativo. “Hoje damos treinamento para médicos, enfermeiros, bombeiros, policiais militares e florestais e também para comunidade em geral”, conta Saragiotto. Ele explica que apesar do Centro de Ofiologia não trabalhar mais com a questão do envio de Soro para o Butantan, a população ainda possui o costume de, quando acha uma serpente ou cobra, levar esta para o Centro.

Ao todo o Centro de Ofiologia de Cuiabá possui cerca de 250 cobras sendo, a maioria, cobras peçonhentas e jararacas.

Número de acidentes
Conforme Saragiotto, o número de acidentes com picadas de cobras e também o número de óbitos ao longo do tempo, vem diminuindo pelo fato da população estar mais consciente com o que se deve fazer. “Em Cuiabá o Soro existe somente no Pronto Socorro Municipal, assim como em todos os outros municípios. Em Várzea Grande não há pelo fato de ser perto de Cuiabá. O mesmo ocorre com algumas cidades do interior que são pequenas, mas quando há casos de picada de cobra a pessoa é levada, imediatamente, para a cidade mais próxima que tenha o Soro”, explica.

Grupos de interesse médico
No Brasil existem quatro grupos de cobras que são de interesse médico, por serem grupos peçonhentos e que, se picada, a pessoa tão logo não for tratada, pode vir a falecer.

O primeiro grupo e também o mais famoso, que chega a causar 90% dos acidentes, é o grupo das Botrhops, ou seja, o grupo das Jararacas. A mais famosa na baixada cuiabana é a Botrhops Matogrossensis ou Jararaca Boipeva, que recebe este nome por ser capaz de matar, com seu veneno, um animal de grande porte.

O segundo grupo é o das Crotalus ou Cascavéis, que são responsáveis por 5% a 7% dos acidentes. O terceiro grupo é o da Lachesis ou Surucucu, principalmente a Surucucu-Pico-De-Jaca, que responde a 2% dos acidentes de picadas. O quarto grupo é composto pelas Corais verdadeiras que respondem a menos de 1% dos acidentes de picadas.

Curiosidades
O biólogo explica que para diferenciar uma cobra peçonhenta de uma não-peçonhenta são os dois orifícios que as peçonhentas possuem em frente de cada olho. “Esta é uma dica para quem é picado. Dos quatro grupos somente a Coral Verdadeira é que não possui estes dois orifícios abaixo de cada olho, onde um é para sua respiração e o outro serve como sensor. Ela é vista através de suas cores”, diz Saragiotto.

Outra curiosidade, que também vem a ser um alerta à população, é com relação àquelas cobras que são encontradas dentro do pé de alface. Por exemplo, como ocorreu na semana passada, no interior de São Paulo e também já vimos casos acontecerem em Cuiabá. Saragiotto explica que é raro as pessoas encontrarem estas pequenas cobras ou serpentes, como ele chama, perdidas em meio às verduras. “Estas são as chamadas Serpentes Dormideiras e se alimentam de caramujos e lesmas pequenas. A pessoa quando vê tem como reação matar o animal sem saber se é ou não peçonhento. A característica da Dormideira é de uma serpente que quase não se move, de cor preta e branca. As pessoas confundem com a Jararaca, mas não é peçonhenta”, explica.

O biólogo conta também que a Coral, para ser considerada verdadeira, deve ter três cores que são preta, vermelha e branca. Estas cores devem ser como anéis, ou seja, passar em volta da cobra e também onde houver anel da cor preta deverá haver dois pretos, sendo assim deverá ser um anel preto, um branco, preto novamente, branco e preto.

Primeiros cuidados que se deve ter ao ser picado
Conforme Saragiotto, os primeiros cuidados que a pessoa, quando picada por cobra, deve ter são os seguintes:
-Mantenha o acidentado calmo, de preferência deitado, com o mínimo de movimentos possíveis;
-Mantenha o membro atingido elevado para que não aumente a circulação sanguínea espalhando veneno pelo resto do corpo;
-Lavar o local com água e sabão e aplicar gelo no local;
-Procure identificar a serpente que causou o acidente. Assim, você estará facilitando o tratamento;
-Procure o hospital mais próximo, a fim de tomar o soro específico. Quanto mais cedo iniciar o tratamento, maiores são as chances de recuperação.

Nenhum comentário: