16 de maio de 2008

APAE

Sem medo de ser feliz

Alunos da APAE de Cuiabá surpreendem a cada dia pais, professores, pedagogos e aqueles que com eles convivem diariamente, mostrando que são capazes de levar uma vida como qualquer outra pessoa

VIVIANE PETROLI
Especial para o Jornal Circuito Mato Grosso

A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Cuiabá existe há 40 anos no município e foi criada pelo engenheiro civil professor Domingos Iglesias Valério. O professor tinha um filho portador da Síndrome de Down e procurou em várias cidades conceituadas clínicas. Conheceu a APAE do Rio de Janeiro. Lá recebeu toda a assistência física e psicopedagógica. Ao retornar para Cuiabá decidiu, juntamente com sua esposa, criar a APAE em Cuiabá.


Hoje em Mato Grosso existem aproximadamente 65 Associações. Somente em Cuiabá são atendidos nas Associações,160 alunos com Síndrome de Down, deficiência intelectual e mental de zero a 50 anos, onde ficam das 7h30min até as 15h. Durante o dia recebem café da manhã, almoço e lanche da tarde antes de irem para casa.

No local os alunos recebem escolarização e estímulo precoce, que vem a ser uma reabilitação com fonoaudióloga e fisioterapeuta para crianças de zero a quatro anos. Segundo a diretora pedagógica da Escola Maria Pedrossian - nome da APAE em Cuiabá- Silvia Cristina Artal, a Associação hoje possui seis alunos incluídos no ensino regular, onde frequentam a associação num período do dia e a escola normal em outro, sem contar os 12 alunos que foram encaminhados para o mercado de trabalho.

“À tarde temos uma psicóloga, uma professora e uma assistente social que trabalham com os alunos em uma Oficina de Empregabilidade. Trabalha-se com esses alunos a questão de higiene, direitos e deveres, trânsito, legislação entre outros assuntos para que eles saibam manifestar quando estiverem no mercado de trabalho. Os pais também participam desta oficina”. Ainda de acordo com Silvia, acontecem visitas nos locais onde há vagas para portadores com a finalidade de que esses possam conhecer e se relacionar com as outras pessoas.

Segundo a professora Josefina da Silva Pereira Leite, a sociedade não está preparada para esta realidade atual. Josefina diz que são pouquíssimas as escolas que aceitam ‘pessoas especiais’ para estudar. “A mídia está ajudando a acabar com o preconceito”, diz Josefina ao lembrar das novelas Páginas da Vida e Desejo Proibido, ambas da Rede Globo, que questionam o preconceito existente sobre as pessoas especiais.

Atividades proporcionadas aos alunos
Além da escolarização, da Oficina de Empregabilidade e do estímulo precoce a APAE de Cuiabá oferece aos seus alunos aulas de dança, banda fanfarra, artes, tecelagem, carpintaria de brinquedos pedagógicos, jiu jitsu e reciclagem. Quando tinha aula de teatro, os alunos chegaram a realizar apresentações até no Teatro Municipal em São Paulo.

“Na apresentação de aniversário de Cuiabá os alunos, além de fazerem apresentações de dança típicas, músicas e até gastronomia fizeram também a decoração”, conta a diretora pedagógica Silvia, que complementa dizendo que todo ano a Associação promove vários projetos com os alunos.

Projeto Bombeiro do Futuro
Cerca de 30 alunos da APAE – Cuiabá fazem parte do 5º Pelotão do Projeto Bombeiros do Futuro, realizado pelo Corpo de Bombeiros da capital. Todos os sábados estes alunos têm aulas. “Os alunos são muito inteligentes, alguns questionam sobre as coisas para aprender, outros nos surpreendem quando pensamos que não sabe sobre tal assunto e sabem. Muita gente pensa que os alunos não têm capacidade de discernimento, mas têm sim”.

Equipe
Para atender os 160 alunos, a APAE de Cuiabá conta com uma equipe de cerca de 30 professores, uma psicóloga, uma assistente social, uma técnica de enfermagem, uma fisioterapeuta e uma fonoaudióloga.

A diretora pedagógica Silvia explica que a Secretaria de Estado de Educação cede para a Instituição professores e também recursos financeiros para mais contratações. O mesmo faz a Secretária Municipal de Educação de Cuiabá.

Ajuda da Comunidade
Além da ajuda que recebem dos agentes governamentais, a APAE também recebe ajuda da comunidade por meio de promoções e campanhas que realizam. Também existem outras fontes como a doação por meio da conta de luz, Fundo da Infância e Adolescência e de cartões de natal.

Reconhecimento da sociedade
A sociedade hoje está começando a reconhecer o potencial das crianças. Segundo a diretora pedagógica, essa é uma das principais discussões que ocorrem no âmbito da Federação Nacional das APAEs.

“Barreiras são encontradas até nas famílias. Algumas sentem receio de deixar os filhos viajarem ou trabalharem”. Os alunos que foram encaminhados para escolas regulares ou para o mercado de trabalho servem de exemplo para os colegas que continuam integralmente na Instituição. De acordo com a professora Josefina, estes ficam questionando quando também irão estudar e trabalhar. “É importante para estas crianças o apoio da família”.

Descrença
Silvia e Josefina contam que existem crianças e adolescentes que chegam à APAE com um diagnóstico médico de que possuem pouco tempo de vida e hoje estão saudáveis. “Alguns anos atrás diziam que uma pessoa portadora de Síndrome de Down, viveria até os trinta anos e hoje temos um aluno de cinquenta anos aqui conosco. Teve um aluno que chegou aqui com um diagnóstico médico de três meses de vida e já se passaram nove anos desde então”.

Conforme Silvia e Josefina cerca de 90% dos alunos atendidos pela APAE são carentes e, em alguns casos, chegam a ter cinco irmãos com o mesmo problema de saúde.

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