2 de maio de 2008

CULTURA

Cuiabá já tem novos conselheiros municipais

A cada nova eleição, ocorrida de dois em dois anos, seis novos Conselheiros Municipais de Cultura são eleitos para realizar o diálogo entre a classe artística e a Secretaria Municipal de Cultura de Cuiabá

VIVIANE PETROLI
Especial para o Jornal Circuito Mato Grosso

Com um atraso de quatro meses foi realizada, na última segunda-feira, 21, a eleição dos seis novos Conselheiros Municipais de Cultura de Cuiabá, que possuem como função, segundo Juliana Capilé, “ser um instrumento de diálogo entre a classe artística cultural e a secretaria municipal de cultura”.

Os seis candidatos tiveram de frequentar reuniões com o secretário municipal de Cultura, com o objetivo de defender os interesses da classe cultural do município. “Além disso, os Conselheiros deverão criar, apoiar e aprovar projetos de cultura enviados para a secretaria municipal pelos artistas, ou criados por ela”, explica Juliana que também fez parte da Comissão Eleitoral fiscalizando o processo eleitoral como um todo.

Quem são os Conselheiros
Três dos seis Conselheiros são representantes da Sociedade Civil Organizada e os outros três são do Mercado Cultural de Cuiabá.

Representando a Sociedade Civil Organizada encontram-se André Lauro (segmento musical), Jan Moura (segmento teatral) e Ahmad Jarrah (segmento audiovisual). Já pelo Mercado Cultural foram eleitos Paulo Fagner (Central Única das Favelas – CUFA), Anderson Rogério (Federação Mato-Grossense de Cururu e Siriri) e Flavianny Tiemi (representante dos estudantes da UFMT).

Fórum e reuniões pré-eleições
De acordo com Juliana Capilé, a participação da sociedade foi boa, apesar de ser um fato que a comunidade artística tenha demorado um pouco para se comprometer “politicamente com a cultura”. Juliana ainda conta que durante os eventos ouviram muitas reclamações pelo fato de o fórum realizar poucas reuniões. “A previsão é que teremos mais reuniões este ano”, diz Juliana.

Como são escolhidos os Conselheiros
Os conselheiros são escolhidos por meio de votação dos delegados, conforme Juliana. Cada segmento artístico escolhe 10 delegados, nestas reuniões, que irão votar pelos demais e pelo candidato do segmento.

Durante a última semana que antecedia a eleição do Conselho, de 14 a 18 de abril, foram realizadas reuniões com cada segmento artístico cultural. Essas reuniões seguiram da seguinte forma: segunda-feira (14) Artes Cênicas e Música; terça-feira (15) Cultura Popular e Patrimônio; quarta-feira (16) Artes Plásticas; quinta-feira (17) Produção Cultural e Literatura; sexta-feira (18) Audiovisual e Sociedade Civil Organizada.

O papel do Conselheiro segundo eles próprios
Assim como Juliana Capilé disse, todos os novos Conselheiros disseram também que para eles o papel do Conselheiro Municipal de Cultura é ser um intermediário entre a sociedade e a Secretaria Municipal de Cultura.

“O papel de um conselheiro é ser defensor da sociedade civil e seus interesses de classe diante do poder público. No caso a Secretaria de Cultura do Município e a minha pretensão é cumprir esse papel, de forma que o plano de cultura do município seja construído com todos os segmentos sociais, para além da classe artística. O conceito de cultura está para além da arte; que a avaliação de projetos e seus recursos possam ser geridos de forma transparente para que todos acompanhem e possam, inclusive, defender diante do conselho os seus projetos”, diz Flavianny Tiemi, do Movimento Panambi, eleita representante da Sociedade Civil Organizada.

Já Ahmad Jarrah, eleito representante do Mercado Cultural, diz ser um elo entre todos os segmentos e a secretaria, ou seja, o Conselheiro representa a sociedade dentro da Secretaria.

Para Jan Moura, também eleito representante do Mercado Cultural, “o Conselheiro é responsável por fiscalizar o trabalho do Secretário de Cultura, aprovar projetos da classe e mobilizar os artistas para debates rotineiros construindo, dessa forma, um pensamento sólido de cultura.”

Meta e objetivos dos Conselheiros
Segundo Ahmad Jarrah ser Conselheiro não é um cargo , pois não tem remuneração, mas mesmo assim o Conselheiro deve se dedicar, ou seja, adotar o Conselho como uma de suas prioridades.
“O Conselho não tem uma estrutura, tem que estar dedicado 100% a esta luta e ter amor ao que faz”, diz Paulo Fagner, eleito representante da Sociedade Civil Organizada.

De acordo com Ahmad Jarrah, são quatro os principais objetivos e metas dos novos Conselheiros:
1. Mobilizar o Fórum de Cultura
2. Criar o Plano Municipal de Cultura
3. Lançar o edital municipal para inscrição de projetos
4. Realizar Fóruns segmentais

A Cultura Cuiabana hoje para os Conselheiros

Apesar de a cultura cuiabana viver ainda certo atraso perante a cultura das grandes cidades, ela obteve algumas evoluções. Conforme Paulo Fagner, tanto na Secretaria Municipal de Cultura quanto na do Estado não existem mapeamentos de produtores, artistas entre outros o que muitas vezes dificulta o trabalho deles próprios e dos Conselheiros.

“Não há Fóruns Segmentais aqui também”, diz Paulo, que completa dizendo que uma das poucas evoluções da cultura, foi o novo modelo de gestão na Secretária Municipal, onde o secretário Mario Olimpio se reúne com a sociedade para discutir a verba da cultura e abre o seu planejamento cultural.

Lei de Incentivo Municipal à Cultura
Em 15 anos trabalhando com música André Lauro, também eleito para representar o Mercado Cultural no Conselho Municipal de Cultura de Cuiabá, diz que esse período foi um período escuro na cultura musical, pois existiam panelinhas de interesse dos artistas e a música do gueto e da periferia sempre eram excluídas.

“A gestão de Wilson Santos e Mario Olimpio não tem esse tipo de panelinha, eles não puxaram sardinha para o lado deles como os outros fizeram. Eles acreditaram no potencial do pessoal”, diz André Lauro, que conta que não se candidatou para Conselheiro e sim emprestou o seu nome para um grupo de artistas que se sentiam excluídos do processo cultural das outras gestões.
André também concorda com seus companheiros de Conselho que a cultura em Cuiabá ainda está atrasada. Segundo ele, a cultura cuiabana perante aos outros Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia está “atrasada anos-luz”. André diz ainda que Cuiabá deveria importar e exportar cultura.

“Falta fazer algo transparente entre todos os segmentos, o poder público tem que prestar mais atenção em Cuiabá. Quem começou a levar nossa cultura para fora foi Lio Arruda, mas quando isso começou perdemos ele”, diz André.

Com relação à Lei de Incentivo Municipal à Cultura o conselheiro conta que para o ano de 2008 foram destinados R$ 800 mil, mas somente R$ 700 mil serão divididos entre os oito segmentos (produção cultural, artes cênicas, música, cultura popular, patrimônio, artes plásticas e literatura), pois R$ 100 mil estão destinados para pagar projetos que faltaram receber o incentivo em 2007.

“Tivemos nesta gestão de Wilson Santos e do Mario Olimpio um aumento de 700% na Lei de Incentivo Municipal à Cultura, ainda é poucos, mas se compararmos com a última gestão do Roberto França aumentou bem, pois quando Roberto era prefeito o incentivo era apenas de R$ 130 mil”, conta André Lauro.

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