7 de abril de 2008

Especial Aniversário Cuiabá - CULTURA

Cultura que não pode morrer

Segundo Aníbal Alencastro, Cuiabá teve dois períodos culturais que são antes e depois da Guerra do Paraguai

VIVIANE PETROLI
Especial para Jornal Circuito Mato Grosso

Traje Feminino do Siriri (Foto: Viviane Petroli)
Festa de São Benedito, Cururu, Siriri, Rasqueado Cuiabano, Viola-de-Cocho, sentar a beira da calça e prosear, bolo de arroz, mojica de pintado, Maria Isabel e farofa de banana, Festa de São Gonçalo, Festa do Divino Espírito Santo, Carnaval no bairro do Porto e Museu do Rio estas são algumas características que fazem parte da cultura cuiabana que vem desde a criação do município e outras que foram surgindo no decorrer do tempo.

Para Aníbal Alencastro, Cuiabá teve dois momentos culturais: um antes da Guerra do Paraguai e outro após a mesma. “Nós somos uma cidade bem interiorana, bem isolada praticamente, tivemos um bom período em que ficamos isolados antes da Guerra do Paraguai e depois da Guerra do Paraguai. E durante a Guerra do Paraguai, isso em 1857 mais ou menos, nesse período toda a cidade de Cuiabá ficou bastante isolada e esse isolamento fez com que surgisse uma cultura sui generis”.

Um bom exemplo disso é a gastronomia. O historiador afirma que por Cuiabá ser fechada e não ter vínculo algum com as regiões do litoral brasileiro não vinha nada de fora, com isso os que aqui moravam tinham que produzir seu próprio alimento.

“Então tínhamos a carne, o arroz, o feijão, com isso o que acontece é a invenção de pratos, como o Bolo de Arroz feito do próprio arroz e banha de porco, a Maria Isabel, quer dizer a carne seca com o arroz, eram coisas que se tinha aqui no momento.

O historiador ainda conta que tem coisas que só aqui em Cuiabá apareceram como é o caso da viola-de-cocho, o rasqueado e as músicas. “Depois que acabou a Guerra do Paraguai, Cuiabá teve outro alento que ajudou muito, que foi a abertura dos portos para a imigração. Foi nesse momento que vieram os europeus. Eram italianos, espanhóis e árabes”.

A cultura hoje
Com a abertura dos portos, após a Guerra do Paraguai, vieram estrangeiros e pessoas de outras partes do Brasil para Cuiabá, com isso a cultura foi se misturando, principalmente a partir de 1970.

De acordo com Aníbal Alencastro essa migração de pessoas de outros Estados para Cuiabá mexeu muito com a cultura daqui, pois possuem uma cultura muito forte, sobretudo os “sulistas”.

A exemplo disso, pode-se citar os Centro de Tradições Gaúchas (CTG) que podem ser encontrados na maioria dos municípios e distritos de Mato Grosso. O historiador conta que apesar da imposição da cultura dos migrantes da região sul do país, acabam aceitando a cultura cuiabana. “Mas se brincar muito,-- a nossa vai até perder a força, por isso temos que batalhar para manter a nossa cultura viva. Tudo bem que venha a de fora, mas também vamos impor a nossa e vamos conservá-la”, diz Aníbal indignado.

Embora a cultura cuiabana e até a mato-grossense, sofra com essa imposição de culturas de outros Estados, a cultura daqui está sendo bem mais divulgada, internamente, para que não se perca. “Cuiabá é uma cidade antiga, de muita tradição e assim está se mantendo. Você vê a parte de religião que impõe os Santos, São Benedito, entre outros, até hoje está se cultivando isso”, diz Aníbal.

Apesar de Cuiabá estar fazendo isso para sua cultura, Aníbal Alencastro diz estar com medo de que a cultura de fora abafe a cuiabana, mas mesmo assim ainda acha que ela está caminhando bem.

“Outra coisa que tem acontecido em Cuiabá é a literatura que está muito boa, ela está se elevando muito e está se registrando muita coisa. E tem o audiovisual que também está ajudando muito a manter a cultura daqui. Você vê o Márcio Moreira ele fez um documentário chamado Saringangá, onde ele conta um pouco sobre o nosso folclore e aí a gente vê como é bonito e que devemos incentivar a permanência dele”, fala Aníbal Alencastro.

Conheça algumas culturas cuiabanas
Cururu
O Cururu é formado de danças rodeadas e toadas. Somente os homens podem participar e suas músicas são tocadas na viola-de-cocho, no adufe e no ganzá. A viola-de-cocho, no Cururu, possui cinco cordas duplas.

Siriri
Siriri já é diferente do Cururu. Nele homens e mulheres dançam em fileiras e roda, respondendo ao que a música pede. Suas músicas são cantadas ao som da viola-de-cocho, do ganzá e do tamburi. O Siriri de roda possui coreografias simples, danças em movimentos de rodas ao pares e os dançarinos tocando com as mãos palmadas, dos outros dançarinos da roda, da esquerda para a direita. O Siriri de fileira é organizado em duas fileiras, uma de frente para outra (homens de um lado e mulheres de outro).

Rasqueado Cuiabano
O Rasqueado Cuiabano é um ritmo que surgiu da junção da música e da dança da polca paraguaia, dos paraguaios que ficaram presos aqui durante a Guerra do Paraguai e do Cururu e Siriri dos ribeirinhos cuiabanos.

Danças cuiabanas
Além do Cururu, do Siriri e do Rasqueado, Cuiabá ainda oferece o Boi a Serra, a Dança de São Gonçalo, o Chorado, a Dança dos Mascarados, a Dança do Congo, a Dança dos Lenços, o Lundum, o Lambadão entre outras.

Comidas
Maria Isabel, Farofa de Banana, Mojica e Moqueca de Pintado, Pacu assado, Furrundu de Mamão, Bolo de Arroz, Pacu na folha de bananeira, Carne seca com banana, Paçoca de carne, Francisquito, Arroz com pequi, Frango com pequi, Lingüiça cuiabana entre outras.

Artesanato
O artesanato cuiabano é conhecido especificamente pela viola-de-cocho e pelas redes bordadas que hoje chegam a ser vendidas no exterior. Além disso tem as bonecas de pano, artesanato em madeira como canoas, pilão, cerâmica (potes, panelas de barro, vasos, jarros, moringas, etc), trançados feitos de fibras vegetais de taquara, buriti e urumbumba para confecção de cestarias e móveis.

Artistas que fazem parte da cultura cuiabana
Na música pode-se encontrar Roberto Lucialdo, João Eloy, Dílson Oliveira, Gilmar Fonseca, Mestre China (já falecido), Guapo, Pescuma, Henrique, Claudinho, Verá Capilé, Abel dos Santos, Banda Vanguart, Banda Art Manha, Banda Arapuca, Banda Hátores, Banda Erresom, Banda Venial, Dois a Um, Fabrício e Fernando, Sara e Lívia, Breno Reis e Marco Viola, Ouro Preto e Boiadeiro, Anselmo e Rafael, Banda Trânsito Livre, Banda Kayamaré, etc.

Já nas artes plásticas tem-se João Sebastião, Vitória Basaia, Adir Sobre, Giovanni de Paula, Jonas Barros entre outros.

A literatura e a poesia fica por conta de Carlos Gomes de Carvalho, Móises Martins, Públio Paes de Barros, Fernando Tadeu de Miranda Borges, Manoel Barros, Silva Freire, Ricardo Guilherme Dicke, etc.


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